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sábado, 10 de maio de 2014

“A rua como um espaço perigoso para a infância é uma invenção”, diz urbanista João Whitaker

João Whitaker (esq.) 

“A rua como um espaço perigoso para a infância é uma invenção”, diz urbanista

O sistema das cidades está saturado. A forma de urbanização do Brasil gerou um passivo urbano desastroso para as crianças que, ou estão presas em condomínios, ou na informalidade absoluta. Se o hoje é ruim, o amanhã pode ser pior. A lógica do consumo cria a cultura do carro desde cedo. A verticalização rouba o horizonte, o sol e a circulação de ar. Ainda assim, a solidificação da ideia de que a rua é um lugar perigoso para as crianças é uma invenção alimentada pelo mercado imobiliário para vender edifícios de segurança máxima.

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Essas são algumas das conclusões de João Whitaker, urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), durante a mesa de fechamento do I Fórum Prioridade Absoluta – Criança em Primeiro Lugar, que aconteceu nesta quinta-feira, 23/4, no Sesc Consolação, em São Paulo.

O evento, organizado pelo Instituto Alana, realizou três dias de debates intersetoriais sobre a infância, balizados pelas áreas de atuação do projeto: Educação, Espaço Público, Mídia e Comunicação e Sistemas de Garantias. O propósito do evento, que pretende se expandir para outras cidades do país e aprofundar discussões e ações concretas pela infância, é garantir a aplicação do artigo 227 da Constituição Federal, que coloca a criança como prioridade absoluta nos planos do país.

A mesa de encerramento “As crianças, a mídia e a cidade”, além de contar com o professor de arquitetura, também teve a presença de Rodrigo Nejm, da ONG Safernet, Salomão Ximenes, da Ação Educativa, Diego Medeiros, defensor público e membro do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e Júlio Pompeu, que estuda as relações entre consumo e violência. Os palestrantes buscaram debater as interfaces entre ética, consumo, cidade e espaços públicos – virtuais ou não – para a infância. Um desses exemplos, já em prática e eixo do prioridade absoluta, é o Ruas de Lazer.

Cidade das crianças

Ao responder uma pergunta da plateia sobre o que seria uma cidade ideal, Whitaker lembrou de uma canção d’Os Saltimbancos, musical infantil adaptado por Chico Buarque, na qual se discute a cidade ideal. De início, o cachorro gostaria que houvesse um poste por metro quadrado. A galinha, que a rua fosse cheia de minhocas. O refrão, no entanto, propõe uma síntese.

“O sonho é meu
e eu sonho que
Deve ter alamedas verdes
A cidade dos meus amores
E, quem dera, os moradores
E o prefeito e os varredores
Fossem somente crianças”

Para o professor, o que aparece nesse trecho é uma oposição ao conceito individual da cidade que, ao ser observado pelo universo infantil, é carregado senso de coletividade. “Quando você pede para uma criança desenhar uma cidade, ela é sempre verde, aberta, povoada de gente. Elas representam cidades coletivas porque a brincadeira é sempre coletiva, comunitária, aberta para todos e quanto mais melhor”, pondera.

Reside aí uma das soluções para o dilema apresentado no primeiro parágrafo deste texto. Para resgatar uma urbanização da cidade para as crianças e para todos, o primeiro passo seria mudarmos nossos padrões de consumo e de investimento público, deslocando-se da necessidade de um crescimento econômico sem limites, passando para um desenvolvimento que represente uma sociedade mais igual.
Para conferir a cobertura completa do evento e os materiais disponibilizados, confira o site do Prioridade Absoluta aqui.

Reproduzido de Prioridade Absoluta, por Pedro Ribeiro Nogueira
25 abr 2014



Como fazer da rua um espaço de lazer: clique aqui para saber mais.

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