João Whitaker (esq.)
“A rua como um espaço perigoso para a
infância é uma invenção”, diz urbanista
O
sistema das cidades está saturado. A forma de urbanização do Brasil gerou um
passivo urbano desastroso para as crianças que, ou estão presas em condomínios,
ou na informalidade absoluta. Se o hoje é ruim, o amanhã pode ser pior. A
lógica do consumo cria a cultura do carro desde cedo. A verticalização rouba o
horizonte, o sol e a circulação de ar. Ainda assim, a solidificação da ideia de
que a rua é um lugar perigoso para as crianças é uma invenção alimentada pelo
mercado imobiliário para vender edifícios de segurança máxima.
Leia
mais
Essas
são algumas das conclusões de João Whitaker, urbanista e professor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), durante a
mesa de fechamento do I Fórum Prioridade Absoluta – Criança em Primeiro Lugar, que
aconteceu nesta quinta-feira, 23/4, no Sesc Consolação, em São Paulo.
O
evento, organizado pelo Instituto Alana, realizou três dias de debates
intersetoriais sobre a infância, balizados pelas áreas de atuação do projeto:
Educação, Espaço Público, Mídia e Comunicação e Sistemas de Garantias. O
propósito do evento, que pretende se expandir para outras cidades do país e
aprofundar discussões e ações concretas pela infância, é garantir a aplicação
do artigo 227 da Constituição Federal, que coloca a criança como prioridade
absoluta nos planos do país.
A
mesa de encerramento “As crianças, a mídia e a cidade”, além de contar com o
professor de arquitetura, também teve a presença de Rodrigo Nejm, da ONG
Safernet, Salomão Ximenes, da Ação Educativa, Diego Medeiros, defensor público
e membro do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda)
e Júlio Pompeu, que estuda as relações entre consumo e violência. Os
palestrantes buscaram debater as interfaces entre ética, consumo, cidade e espaços
públicos – virtuais ou não – para a infância. Um desses exemplos, já em prática
e eixo do prioridade absoluta, é o Ruas de Lazer.
Cidade das crianças
Ao
responder uma pergunta da plateia sobre o que seria uma cidade ideal, Whitaker
lembrou de uma canção d’Os Saltimbancos, musical infantil adaptado por Chico
Buarque, na qual se discute a cidade ideal. De início, o cachorro gostaria que
houvesse um poste por metro quadrado. A galinha, que a rua fosse cheia de
minhocas. O refrão, no entanto, propõe uma síntese.
“O
sonho é meu
e eu
sonho que
Deve
ter alamedas verdes
A
cidade dos meus amores
E,
quem dera, os moradores
E o
prefeito e os varredores
Fossem
somente crianças”
Para
o professor, o que aparece nesse trecho é uma oposição ao conceito individual
da cidade que, ao ser observado pelo universo infantil, é carregado senso de
coletividade. “Quando você pede para uma criança desenhar uma cidade, ela é
sempre verde, aberta, povoada de gente. Elas representam cidades coletivas
porque a brincadeira é sempre coletiva, comunitária, aberta para todos e quanto
mais melhor”, pondera.
Reside
aí uma das soluções para o dilema apresentado no primeiro parágrafo deste
texto. Para resgatar uma urbanização da cidade para as crianças e para todos, o
primeiro passo seria mudarmos nossos padrões de consumo e de investimento
público, deslocando-se da necessidade de um crescimento econômico sem limites,
passando para um desenvolvimento que represente uma sociedade mais igual.
Para conferir a cobertura completa do evento e os materiais disponibilizados, confira o site do Prioridade Absoluta aqui.
Para conferir a cobertura completa do evento e os materiais disponibilizados, confira o site do Prioridade Absoluta aqui.
Como fazer da rua um espaço de lazer: clique aqui para saber mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário